Sexta-feira, 29 de Julho de 2011

Não Fora o Mar!

 

 

 

 

 

Não fora o mar, 
e eu seria feliz na minha rua, 
neste primeiro andar da minha casa 
a ver, de dia, o sol, de noite a lua, 
calada, quieta, sem um golpe de asa. 

Não fora o mar, 
e seriam contados os meus passos, 
tantos para viver, para morrer, 
tantos os movimentos dos meus braços, 
pequena angústia, pequeno prazer. 

Não fora o mar, 
e os seus sonhos seriam sem violência 
como irisadas bolas de sabão, 
efémero cristal, branca aparência, 
e o resto — pingos de água em minha mão. 

Não fora o mar, 
e este cruel desejo de aventura 
seria vaga música ao sol pôr 
nem sequer brasa viva, queimadura, 
pouco mais que o perfume duma flor. 

 

Não fora o mar 

e o longo apelo, o canto da sereia, 
apenas ilusão, miragem, 
breve canção, passo breve na areia, 
desejo balbuciante de viagem. 

Não fora o mar 
e, resignada, em vez de olhar os astros 
tudo o que é alto, inacessível, fundo, 
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros, 
iria de olhos baixos pelo mundo. 

Não fora o mar 
e o meu canto seria flor e mel, 
asa de borboleta, rouxinol, 
e não rude halali, garra cruel, 
Águia Real que desafia o sol. 

Não fora o mar 
e este potro selvagem, sem arção, 
crinas ao vento, com arreio, 
meu altivo, indomável coração, 

Não fora o mar 

e comeria à mão, 
não fora o mar 
e aceitaria o freio. 

 

 

Autor: Fernanda de Castro

 

 

 


 

 

 

 

 

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publicado por Súh (My Secret) às 12:28
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7 comentários:
De PaperLife a 29 de Julho de 2011 às 18:43
Obrigada ^^
Também gostei imenso deste poema :)

Bom fim-de-semana ^^
De Súh (My Secret) a 30 de Julho de 2011 às 21:37
Muito obrigada pela visita Paper ;)

Igualmente ^^
De poetazarolho a 29 de Julho de 2011 às 22:06
“Mimos ao poder”

Cultura não é ministério
E nem nunca poderia ser
Cultura é um assunto sério
Não entra em jogos de poder

Ministério é o da agricultura
Aí sim já podemos concordar
Que para uma boa legislatura
Muitos nabos há que plantar

Se a cultura chegasse ao cimo
Seria outra a forma de governar
Agricultura seria despromovida

Pr’a ministro teríamos um mimo
Um dia havemos de lá chegar
Já os nabos far-se-iam à vida.
De PaperLife a 5 de Agosto de 2011 às 21:10
Obrigada eu, pelo teu comentário :)
Desejo-te também umas boas férias, aproveita ao máximo ;D

(ah, e gostei imenso do poema ^^ )
De Súh (My Secret) a 6 de Agosto de 2011 às 21:45
Muito obrigada, querida ;)

Igualmente ^^
De isabelsushi a 7 de Agosto de 2011 às 10:38
Muito lindo este poema!
Beijinhos grandes
De Súh (My Secret) a 8 de Agosto de 2011 às 12:05
Obrigada (:

Beijokas ^^

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